quinta-feira, 13 de março de 2014

CRÍTICA BIGOTRON - Robocop

Bota na conta do Papa!

Quando eu soube que o diretor José Padilha, responsável pelos dois Tropa de Elite, seria o diretor do remake de Robocop, senti um misto de empolgação e medo. Afinal, Padilha já mostrou que é um diretor foda, mas será que ele conseguiria impor seu estilo de filmagem em Hollywood? Um diretor estreante em terras americanas, vindo de um país cucaracha e sem experiência no campo da ficção científica poderia ser facilmente dobrado pelos executivos FDPs de Hollywood para fazer mais um filme descartável e babaca como milhares de outros. A notícia de que o filme teria a famigerada censura 13 anos também esvaziou qualquer esperança que eu nutria por esse remake...

Pois bem: fui para o cinema com a expectativa lá embaixo...e me surpreendi. Sério, o Padilha conseguiu entregar um filmaço! Eu arrisco dizer que o filme é tão bom quanto o primeiro filme de 1987 (esqueça as continuações de merda e aquela série de TV ridícula), mas de uma forma diferente.

Para início de conversa, o Padilha fez exatamente o que prometeu: ele pegou a idéia central do filme original e seguiu por um caminho completamente diferente. Por isso é um tanto complicado comparar esse novo filme com o antigo dos anos 80. Nesse remake, a corporação Omnicorp (o nome completo da antiga OCP, caso você não tenha pescado) produz drones e robôs de combate, que são usados em guerras e missões fora dos EUA com o objetivo de poupar a vida de soldados humanos. O problema é que a Omnicorp está louca para usar esse maquinário dentro dos States para bombar seus lucros, mas, infelizmente, uma lei proíbe que drones e robôs sejam usados em solo americano. A corporação, então, pensa em um plano brilhante: eles irão pegar um homem mutilado e transformá-lo num policial robô, de forma que eles consigam burlar a lei e convencer a população de que uma polícia robótica é o "caminho do futuro". Não demora muito para aparecer na jogada o policial Alex Murphy, um policial honesto que investiga policiais corruptos e é alvo de um atentado, ficando completamente mutilado. A Omnicorp pega seu corpo e...bem, você já deve saber o resto da história.


Uma das grandes diferenças com o filme original é que agora o Robocop é produzido em cima do corpo VIVO de Alex Murphy (apesar de bastante mutilado). Ele, Robocop, é mostrado como um ser humano dentro de um corpo robótico que, apesar de todo o suporte tecnológico, ainda é humano e possui sentimentos. Esse detalhe deixou a história com um tom bem mais sombrio, pois são justamente os sentimentos de Murphy que fazem a Omnicorp pensar numa maneira de robotizá-lo ao longo do filme, de forma a deixá-lo como uma máquina mais "fria". Isso acaba gerando um belo Paradoxo de Tostines: Robocop é um robô que pensa que é humano ou um humano que pensa que é um robô? Isso leva a uma cena em que o Robocop é desmontado para Alex Murphy saber o que restou de seu corpo original, e ela é simplesmente fodástica.

Assim como no filme dos anos 80, a crítica política-social desse filme é bem presente e dá uma cutucada escrota no modo de vida americano. Logo no comecinho do filme vemos drones patrulhando as ruas do Irã (e metralhando adolescentes...); a fábrica da Omnicorp fica na China no meio de uma plantação de arroz com agricultores miseráveis e a população americana é mostrada como um bando de idiotas pessoas facilmente manipuláveis pela mídia. Enquanto a crítica social do filme original beirava o humor negro, no filme de Padilha a coisa toma um rumo mais crítico e politizado, mostrando conteúdo em um blockbuster de censura baixa, coisa raríssima nos dias de hoje. 




Aliás, esqueçam o mimimi generalizado de que o filme ficou uma merda por ter censura 13 anos. Sim, o filme não tem aquela violência truculenta do filme de 1987, mas isso não estraga o filme de maneira alguma. Se serve como uma forma de tranquilizá-lo, saiba que o Robocop mata bandidos, e mata bastante. Mas nem pense em ver cabeças explodindo e ver litros de sangue espirrando pela tela. São mortes mais lights, se é que você me entende. Até mesmo a mão humana do Robocop, que gerou pitis homéricos pela internet afora, tem toda uma razão de existir nesse novo filme. Fiquem tranquilos que a explicação faz todo o sentido.

Enfim, deixem de lado as comparações com o filme de 87 e vejam esse filme sem ódio no coração. Vocês terão uma bela surpresa! O final desse filme, na minha humilde opinião, é um verdadeiro chute no saco de qualquer norte-americano.


NOTA DO FILME: 4 bigodes (de 5)


* BÔNUS: José Padilha participa do programa Roda Viva da TV Cultura e fala como foi filmar Robocop nos States e da produção de seus filmes antigos (incluindo aí os dois filmes de Tropa de Elite), além de outros assuntos:

)

PARTE 2

PARTE 3

PARTE 4